crônica de mais uma sexta-feira

Guilherme Polonca
2 min readAug 27, 2022

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A luz do sol invadindo uma casa faz maravilhas pela nostalgia. E nostalgia, bom… tá na moda falar que é ruim, né? Mas na verdade não é, não. Eu desço as escadas e ao virar poucas ruas encontro cenas que enchem meus olhos de esperança e o meu coração de lágrimas. Vejo crianças. Eu sinto saudade da minha infância, sabe? Não é que eu não saiba ser adulto, é só que eu preferia ser criança.

O posicionamento das escolas públicas de periferia prestam grande auxílio àqueles que estão perdidos dentro da própria imaginação. Eu vejo as coisas com os meus olhos, sim, mas o que me faz enxergar são as minhas memórias.

Primeiro, uma escola de educação infantil: as crianças brincando me fazem revisitar aquela falta de urgência de um meio de tarde onde as obrigações já acabaram e o resto é pura possibilidade. Depois, logo em frente, uma escola de ensino fundamental, onde os quase-adolescentes já caminham sozinhos pela calçada e interagem uns com os outros como se não fosse possível enxergar sequer um palmo à frente do próprio nariz.

Percorro esses dois ambientes e, invisível, os deixo pra trás; nas minhas memórias inventadas, eu mesmo sou o próximo estágio. Se isso é bom ou ruim eu não sei, acho que é só natural mesmo. Mas mesmo assim eu gostava mais de ser criança.

Meio-dia e aquele sol estalando, reduzindo meus passos e me fazendo observar as mesmas coisas que eu já observo há anos. Olho pros cantos, enxergo memórias e eu até ficaria triste por não serem mais que memórias, mas a verdade é que o sol do meio-dia parece reduzir só os meus passos, mesmo. Os passos ao redor permanecem intactos. E olha que eu só precisava passar no mercado.

O tempo se recusa a parar de passar, e enquanto isso, tudo que eu vejo são pessoas criando memórias. Se eu pudesse fechar os olhos ou, sei lá, escrever um texto, eu poderia até mesmo imaginar o dia em que elas se lembrariam com saudades desses momentos.

Eu gosto de pensar que tem sempre uma nova versão nossa andando por aí, fazendo novas coisas e criando novas memórias. E é por isso que esse mundo segue em frente, dia após dia, pro resto dos dias. Mas por enquanto eu só preciso passar no mercado.

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Written by Guilherme Polonca

crônicas de ódio e outros sentimentos menos nobres

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