fita de cinema em série

Guilherme Polonca
1 min readJan 5, 2021

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estava lá, meio embebido pelo verão, calor, aquele clima bom. despreocupadaço. cores quentes, brisa fresca, sorrisos fáceis. parecia até, sei lá, outro ano? década passada. auge, isso. parecia aqueles momentos de auge.

aí passou alguém do lado. bom, porque não? há tempos não se sentia tão disposto, tão destacado de qualquer tipo de consequência. chamou. dois sorrisos. parecia bom. parecia alguém novo, convidativo, refrescante. mas parecia alguém já conhecido. não era inédito, era? bom, foda-se.

desciam alegres aquela rua estranhamente colorida, aquele desfiladeiro, o sol reinando absoluto no topo de tudo, lembrando a todos de que estavam vivos. mas estavam? faltava alguma cor também. alguma vida verdadeiramente inédita. aquilo tudo parece que já aconteceu.

peito levemente apertado, não pelos bons motivos nem pelos lúdicos, mas os braços já estavam entrelaçados; que a sorte os permitisse descer aquela rua.

desceram, mas alguém subia. a pessoa errada. ou a certa. a pessoa que tinha que estar subindo a rua. e aí tudo ficou claro: o hoje não era hoje mesmo não. era mesmo, sei lá, outro ano? década passada. auge, isso. era mesmo um daqueles momentos de auge.

e já que alguém subia, desentrelaçaram-se os braços. tudo já era agora insignificante. já não era nada, ninguém, já não era vivo. só existia quem subia e quem descia.

e então já não existia mais.

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Written by Guilherme Polonca

crônicas de ódio e outros sentimentos menos nobres

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