Nota de repúdio à passagem do tempo

Guilherme Polonca
2 min readJan 22, 2022

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Pode parecer um pouco estranho chegar assim, do nada, dizendo todas essas coisas pra você sem nem esclarecer o motivo, mas… Na verdade eu também não sei o motivo.

É que esses dias eu lembrei de você, sabe? Vinha andando na rua, voltando pra casa depois de ter ido ao mercado, e encontrei Guaraná Jesus pra vender num bar a menos de cinco minutos de casa. Tão perto assim, cara! Cê acredita?

Mas eu não comprei. Dinheiro eu tinha, mas sei lá, não deu vontade. Não é a mesma coisa mais, e eu duvido que o refrigerante tenha mudado. Mas mesmo assim não é mais a mesma coisa.

Enfim. Tô te enviando essa carta pra dizer que você estava errado. Ruim ouvir isso, né? Clichê demais também. Mas é verdade. Não sei bem dizer, mas pelo menos 80% das suas convicções não existem mais.

Tô escrevendo isso aqui de um celular novinho, com NFC e os caraio. Pagamento por aproximação. Conexão rápida, mais rápida que a sua internet aí de casa. 5G! Cinco. E fui eu que comprei. Mas no momento em que ele chegou dos correios, eu coloquei a caixa num canto e continuei a fazer o que eu tava fazendo. Depois ainda saí pra ir no mercado, ignorei o Guaraná Jesus e só aí eu abri a caixa. Parece mentira pra você, eu sei. Mas eu tô sendo sincero.

A resposta pra maioria das perguntas que você teria pra me fazer é “sim”, então nem se preocupa. Se for me responder, usa essa oportunidade pra coisas mais importantes, mas cuidado com a resposta, provavelmente não vai ser o que você quer ouvir. Eu até diria que a culpa não é minha, mas é sim. Mentir pra você é que eu não vou. Pra você, não.

E presta atenção, se eu puder te dar um conselho: não minta pra si mesmo. No fundo eu ainda acredito que você saiba de todas as respostas, então é por isso que eu te escrevo e peço: me escreve de volta. Com certeza você tem mais a dizer que eu, e no momento eu tô precisando mesmo é de ouvir.

Acho que por enquanto é isso, não vou ficar tomando o seu tempo nem enchendo a sua cabeça de dúvidas, não é o momento pra você se preocupar com isso. Toma um Jesus lá por mim, pede cinco reais pra sua mãe. Guarda bem essa memória, que aí é só eu fechar meu olho pra sentir o gosto também.

Se cuida.

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Written by Guilherme Polonca

crônicas de ódio e outros sentimentos menos nobres

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