quem for de papel que se rasgue

Guilherme Polonca
1 min readMay 7, 2021

--

— experimenta, porra!

fiz que não e ergui as sobrancelhas.

— não, mano, tô suave.

— experimenta aí, tá mó bom! — e eu me esquivei, sacudindo o dedo de um lado pro outro e indo embora já. risoto de morango? oxi. não quero. fui embora e gastei os sete reais que restavam no meu vale refeição num pedaço de pizza requentado. tinha ervilha e eu odeio ervilha, mas era isso ou o que? risoto de morango? minha pele tava toda fodida já de viver à base de salgado de padaria, café de máquina, insônia e um ódio que eu ainda nem sabia que sentia. mas tava lá, latente. ódio e gordura requentada.

isso faz uns cinco anos já.

tava aqui hoje escolhendo meu almoço e acabei comprando um risoto de pera, hoje o meu vale-refeição dá conta e o meu paladar também. podia até vir ervilha, tudo bem. não que eu goste, mas podia até vir. a gordura eu tenho deixado de lado, o café melhorou significativamente, a insônia só aparece quando eu tô muito bolado. com o ódio eu tô aprendendo a lidar, mas mesmo assim ele continua aqui, um pouco menos latente. um pouco menos requentado.

--

--

Guilherme Polonca
Guilherme Polonca

Written by Guilherme Polonca

crônicas de ódio e outros sentimentos menos nobres

No responses yet