Suco de laranja, casas bahia e tragédia
É sempre ao chegar em casa que eu percebo tudo que fui deixando de perceber durante o dia. Depois de ficar tanto tempo dentro de uma calça, parece que a única coisa que você precisa fazer é sentar e ficar lá parado, bem longe da calça, quase como se a sua vida dependesse disso. Aí quando você finalmente senta, percebe que não é suficiente. Porra, não tá nem perto de ser.
A pele grudenta, calor do caralho, as costas doendo de carregar o que cabe muito bem em uma nuvem, a sola do pé doendo de carregar aquilo que não há nem escolha, o peito doendo de carregar aquilo que nunca nem foi a intenção. Mas qual era a intenção, mesmo? Nem lembro.
Casa acostuma, né? Até o que nem é tão bom acostuma. Bermuda acostuma, chinelo acostuma, bairro acostuma. Rua também acostuma, mas é diferente o costume. A pele pode até estar grudenta, mas a impressão que dá é que quando você chega em casa perde até alguns músculos do rosto. Aí depois de tomar banho, sem ao menos perceber, sentado ali massageando o ombro, dizendo pra ele que você já está em casa, fica fácil até pegar no sono sentado. A siesta tardia que manda uma mensagem muito clara, um cérebro desligando como quem diz “peraí, vamos respirar um pouquinho”.
Desses respiros eu costumo acordar com sede, buscando algum tipo de reequilíbrio. Esses dias era quase meia-noite e eu estava na cozinha fazendo um suco de laranja. O corpo já recuperado, já sentindo o tactel da bermuda contra a pele, mas parece que sempre falta alguma coisa, e é nessas que eu me pego na cozinha, meia-noite quase. Espremendo laranja. Tem algo de mágico numa boa golada de suco de laranja, algo aliviador. Suco de laranja, vai por mim: talvez ele seja a solução dos nossos problemas. Ou talvez eu esteja meio desesperado.